7 de junho de 2010

Não costumo falar de política. Nem citar crónicas. Nem sequer manifestar a minha tristeza com o rumo deste meu País...

No entanto, existem palavras que não consigo deixar de partilhar!

"O turismo de Sócrates


O eng. José Sócrates, como é sabido e lamentado, anda por esse mundo a pedinchar dinheiro para Portugal. Começou com farroncas de “modernizador” e acabou caixeiro-viajante de nossa miséria. Uma actividade que ele provavelmente considera heróica e a que chama, para consumo interno, “diplomacia económica”: com certeza para não lhe chamar coisa pior. Esta diplomacia parece que lhe permite fazer declarações de amor ao repelente sr. Chávez da Venezuela, o inventor do “bolivarismo” e um populista autoritário, sem educação e sem vergonha. O português, coitado, assiste ao espectáculo caladinho e quieto, porque tem um longo hábito do vexame e porque a experiência histórica já o ensinou que a cavalo dado não se olha o dente. Mas mesmo o português não engole tudo.


Digo isto porque ultimamente o sr. Sócrates resolveu juntar à pedinchice uma espécie de turismo pessoal que nos compromete. Quando foi ao Brasil meteu uma lusitaníssima “cunha” ao Presidente Lula para conhecer o cantor (e compositor) Chico Buarque de Hollanda. Sendo primeiro-ministro, este extraordinário desejo de Sócrates significa, em princípio, que Portugal inteiro está interessado em Buarque de Hollanda e lhe atribui uma particular importância. Não se consegue imaginar que espécie de importância e não vale a pena fazer esforço, porque a certa altura se descobriu que a atracção de Sócrates pelo homem era meramente pessoal. Gostava dele como poderia gostar do Pato Donald ou de um actor de telenovela. São manias de criança (ou de adolescente), que ninguém lhe deve levar a mal.


Só que aproveitar uma situação privilegiada para satisfazer uma curiosidade infantil não assenta muito bem num primeiro-ministro, e Sócrates, percebendo isso, arranjou maneira de disfarçar a coisa. O Gabinete dele anunciou tudo ao contrário: afinal era o Buarque de Hollanda quem queria conhecer o celebérrimo e fascinante Sócrates do “Simplex” e do défice. Infelizmente, Buarque de Hollanda desmentiu logo essa versão dourada. O facto é que Sócrates se enfiou à força em casa dele (de fotógrafo à trela) não se imagina porquê nem para quê. Para arranjar um autógrafo, para ouvir a criatura “ao vivo”, para se inscrever no clube dos fãs? Não há maneira de tirar o caso a limpo. A única verdade incontestável é que, por um capricho, o primeiro-ministro abusou do seu cargo e humilhou o país. Para mim, basta.


Na Coluna de Vasco Pulido Valente "Opinião" - no "Publico" em 06.06.2010"

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