11 de janeiro de 2011

Sem Título

Nunca poderei precisar quando te conheci porque te conheço desde sempre, desde que me conheço.

És parte de mim. Fazes parte do meu mundo e da minha vida. És família, na verdade és mais família que muita família de sangue.

Trocámos chuchas, andámos juntas de triciclo, de bicicleta, de carro.

Fumámos juntas. A princípio às escondidas e tantas vezes um cigarro partilhado. Bebemos juntas e tanto que nos rimos de tanto que ficará para sempre só para nós.

Foi com a alegria e o entusiasmo normal da idade que partilhámos as primeiras experiências no tão tortuoso caminho do amor. Sim, que isto do amor na infância e na adolescência faz rolar muita lágrima e os ombros amigos são mais que necessários.

Podíamos passar meses sem nos encontrar. Sem falar. Não era importante, quando nos víamos era como se estivéssemos estado juntas ontem. Nas amizades verdadeiras o tempo e a proximidade não são coisas importantes.

Recordo com saudade as noites, em que depois de muita brincadeira, íamos para casa. Cada uma para a sua, tu na tua, eu na da minha Avó, e como se ainda não tivéssemos conversado e brincado tudo batíamos na parede, em sinal de que estávamos prontas para "falar" mais um bocadinho e era uma forma de continuarmos a comunicar. Começávamos a rir. Quando as gargalhadas se elevavam conseguíamos ouvir-nos!

Brincámos às bonecas, dentro de casa, no quintal, sem permissão para transpor esses limites. Fomos crescendo e ganhámos o direito de brincar na rua, à porta de casa mas fora dos limites dos portões. Começámos a poder sair à noite e assim fomos crescendo...

Apenas 1 ano nos separa mas a verdade é que nunca se notou. 1 ano não é nada.

És para mim a Filipa-do-lado, para que haja uma distinção da minha outra Filipa ,porque por ironia do destino as minhas melhores amigas, as amigas mais antigas são Filipa tal como eu. Tu és sem dúvida a amiga mais antiga. A minha primeira amiga. A minha sempre fiel amiga.

Ainda hoje tenho uma falha num dente. :) Um dente com um milímetro partido. Não se vê a olho nu mas está cá. E estávamos as duas quando o parti. Não nos deixaram sair de casa. Fomos conversar para o muro. Fiquei tão entusiasmada com a conversa que bati com a boca no muro e caiu um bocadinho do dente. -Não contamos nada a ninguém-, decidimos. E continuámos a conversa.

Ainda hoje tenho no braço a cicatriz de uma aventura. Brincávamos as duas. Eu decidi travar a bicicleta apoiando o braço num vidro. Estávamos no quintal da minha Avó. Eu e tu. O vidro partiu, o braço começou a deitar sangue e tu saltaste o muro para pedir ajuda. Hoje recordo esse episódio e sinto que há muro entre nós mas que eu não o posso saltar para te ajudar nem para pedir ajuda. E eu queria tanto... Mas tanto... Queria tanto poder ajudar-te. Pedir ajuda e sorrir no final por saber que está tudo bem. Tal como tu sorriste quando me viste chegar de braço ao peito mas sorridente!

Ontem li mais uma vez o que me escreveste no dia do teu casamento. Estavas Linda e feliz. Igual a ti própria.

E tinha tanto mas tanto para escrever mas não consigo. Não o vou fazer porque quero acreditar que ainda vou ter muito mais para recordar.

Enquanto há vida, há esperança e apesar de saber que a tua poderá ser curta vou continuar a acreditar com muita força que vai tudo correr bem. Porque eu quero acreditar, por ti, que vamos voltar a partilhar sorrisos.


1 comentário:

ora diga lá...