27 de maio de 2010

Caderno de capa preta

Tenho um caderno de capa preta. Um caderno onde escrevo tudo aquilo que preciso dizer mas que não quero que seja lido ou ouvido. Um caderno que guardo comigo, onde nem sempre as letras saem direitas e tem tinta borrada por uma ou outra lágrima que foi caindo enquanto escrevia. É um caderno de capa preta onde dou por mim a escrever mais tristezas que alegrias. Tenho pena que assim seja, que me seja mais fácil exprimir os sentimentos tristes.

Gostava, um dia, de me sentar contigo. Ter ao nosso lado uma garrafa de tinto. Pedia-te que fumasses um cigarro comigo. O banco onde estávamos sentados dava para o rio, numa alameda com palmeiras. O vento nem sempre deixava as folhas do caderno de capa preta calmas. Mas ali, eu e tu, sentados naquele banco, em frente aquele rio e com a sombra daquelas palmeiras íamos ler todas as páginas. No final tu sorrias para mim e dizias que eu já não precisava do caderno de capa preta.

Eu, encostada a ti, sentia a noite chegar. Olhava para o céu e via as estrelas. E enquanto esse momento durasse eu ia voltar a ser feliz e, se voltasse a abrir o caderno de capa preta ,já não escreveria palavras tristes.

E quando as palavras não fossem mais necessárias ficávamos a ouvir o barulho forte da água. E eu recordava o tempo em que não tinha um caderno de capa preta.





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ora diga lá...