Não gosto de lhes chamar idosos. Para mim são velhos. Velhos é para mim o termo mais carinhoso.
Choro com programas como o que deu no Canal 1. Choro quando a palavra que mais ouço não é austeridade. Não é fome. Não é pobreza. Não é doença. Choro quando ouço SOLIDÃO!
Sei que nem todos os idosos estão solitários por culpa dos outros ou da falta de apoio dos outros. Sei que muitos os estão por opção e outros tantos porque a vida a isso os levou.
Este é um tema complexo. Não gosto, em nada na vida, de julgar uma parte sem ouvir a outra. Sei que em muitos casos os idosos estão sozinhos porque os filhos e família chegada pura e simplesmente não querem saber, os acham uns empecilhos, não os querem encaixar na sua rotina diária. Outros casos haverá em que um Pai que nunca o foi, quando a criança também precisou, não pode esperar que o Filho o seja.
Independentemente do que leva à solidão dos idosos é urgente que se faça alguma coisa para a combater. É urgente que a solidariedade não se centre apenas nas crianças ou na luta contra a sida ou em quaisquer outras causas com mais visibilidade.
Não é justo que alguém tenha sofrer tanto no final da vida que a memória apague alegrias passadas.
Eu tive Avós velhos. Ainda tenho uma Avó velha. Os meus velhos nunca conheceram a palavra solidão. Aprendi a amar os velhos. A ser condescendente com os velhos. A retribuir todo o amor, carinho e atenção que recebi dos meus velhos.
Tive um Avô num Lar... Num Lar e não num depósito de velhos que são coisas diferentes. Tive um avô num Lar, doente e com Alzheimer. Um avô que não nos conhecia mas que apesar disso até ao seu último dia nunca deixou de nos ver. Fui a última pessoa a ver o meu avô ao final do dia já não eram horas de visitas. Morreu numa cama de Hospital. No hospital onde tantas vezes o fui visitar, fora de horas. Porque é possível. Porque os hospitais, os lares, as instituições não cumprem as regras se isso resultar na não solidão do velho. É possível não os deixar sozinhos.
Tive um Avô que morreu em casa durante o sono. Doente. A minha Avó velha cuidou dele até ao último dia. Sozinha a maior parte do tempo. Os filhos e as netas visitavam ao final dos dias de semana e acompanhavam com mais tempo ao fim-de-semana. Nunca esteve sozinho.
Tive uma Avó velha que morreu em casa. Doente. Enquanto a minha Tia lhe dava o jantar. Esteve em casa até ao último dia. A filha cuidou dela. O genro cuidou dela. As netas cuidaram dela. Até ao último dia não soube o que era a solidão.
Eu ainda tenho uma avó velha. Tem momentos em que está sozinha. Claro que sim. Mora sozinha. Tem 87 anos. Tem-nos a todos. Não sabe o que é solidão. Nunca saberá. Não sei se morará sozinha até ao seu último dia. Não sei como será o seu último dia. Sei que não saberá o que é a solidão.
É imperativo encaixar os velhos nos nossos dias. Não é justo que não se visitem os avós nem que seja uma vez por mês. Não acredito que um filho não tenha tempo para os pais. Não os conseguem visitar, telefonem.
E quantos Avós há por aí que não conhecem os netos?
Não quero julgar. Mas sei que a falta de tempo não é o problema.
A crise de valores é que leva à solidão dos nossos velhos.